sra dalloway,
estou de partida, vou para a africa. tentarei escrever se puder. fiz a barba e raspei a cabeça. tomei vacinas, muitas, coloridas até. minha mala é para dias, mas seu conteúdo é para anos. vou deixar aqui o endereço e o telefone mais próximo de onde ficarei até meados de junho. depois disso, não sei mais. as horas que demorei só para escrever essas linhas demonstram a turbulência do meu coração. guarde biscoitos e café para minha volta, mas se eu demorar os dê para outra pessoa. não deixe de esquecer dos cactos.
toda vez que puder, deixe o portão aberto para os cachorros passearem e certifique-se que a amoreira não adoeça. os morangos estão perdidos. queime todas as minhas cartas, vou reescrevê-las nos meus tempos ociosos. preciso ir agora. os trens são pontuais quando partimos.
sexta-feira, junho 13, 2003
quarta-feira, junho 04, 2003
sra. dalloway,
é este momento de junho. a cidade está alvoraçada, desvairada. começa a fazer frio e todos correm para suas casas ou lugares de chocolates quente. a sra. ainda está indecisa se compra suéteres ou casacos mais caros. o desemprego está alto e não convém gastar além da conta. é este momento de junho. uma celebração para os que podem; uma desgraça para os que não. vou te beijar a testa agora, sra. dalloway, para dizer que tudo passa.