sra. dalloway,
na décade de 90, houve uma proliferação de casa de tintas e sebos por aqui. em algumas ruas chego a ver 4 ou 5 lojas, seja de tintas, seja de livros ou de ambos. havia a esperança, acredito, de que poderiam recuperar uma memória que nunca puderam ter ou dar cores novas às casas já que derrubar e reconstruir tem sido algo doloroso para a história dessa gente.
a maioria dos estabelecimentos está em via de falir. alguns resistem. acabei ficando amigo de um senhor muito simpático que possui uma dessas lojas hibridas. ele cuida sozinho do lugar. lá se vê as tentativas de tornar o negócio mais rentável: as tintas das paredes sobrepostas numa experiência de invenção de novas cores; o curso de língua do país vizinho pegando pó; volumes de autores novos locais - alguns muito bons. mando-lhe algum assim que puder.
esse sr. de nome plate espera pelo filho que foi estudar administraçâo na capital. disse-me que sabe que o filho não levará a loja e seu legado e que fechará assim que seu filho dar as novas de que se formou.
nesse dia saí da loja com apenas 2 volumes de borges que consegui por preços irrisórios. "ninguém acredita mais nos latino-americanos e seus países sonhados, nem eu", disse-me. do rua, olhei através da vitrine o sr. plate organizar os livros por algum critério secreto e continuar suas experiências com as tintas. do outro lado da rua, alguém cantava cartola em lá-lá-lá e um outro recitava eduardo galeano num espanhol incompreensível.
pensei em ti e achei um desacato do sr. plate não acreditar nos latino-americanos.
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