sra. dalloway,
há mto não lhe escrevo, mas não foram poucas as páginas guardadas. anotações, desenhos e indicações de músicas. essas linhas vão por saudade, a mesma que lhe aborrece de quando em quando. saudade da vida. muitas vezes pensei em retomar essa correspondência, mas sempre concluía que talvez nunca chegasse para onde sempre foram destinadas. penso que há muita chance de ser abortada novamente, mas hoje, depois de tantas desventuras e desencontros, não importa tanto. porque sua retomada não soa tão dolorosa.
ando curioso em saber como andam nossos amigos comuns. recebo só notícias ruins; as boas, suspeito, reservam para quando eu voltar. mas se eu me demorar? não ficarão ainda mais velhas as notícias? não será mais sôfrego estar ausente e ainda perder o fio da meada? e se eu não voltar há tempo?
aqui os relógios se confundem, ninguém chega a conclus?o alguma. eu matenho o mesmo relógio ao qual você fez elogios tão surpreendentes, mas até ele n?o me surpreende mais. assim que eu terminar essas linhas, enviarei postais aos nossos amigos e em cada um desses postais colocarei uma palavra secreta. assim será forçada a visitá-los para formar o quebra cabeça e saber o que anda sentindo o meu coração, se lhe interessar.
vai anexo alguns selos locais. não poderá usá-los sós, mas se colar alguns daí talvez os correios aceitem a brincadeira. e será como se estivéssemos infringindo a geografia para estarmos mais próximos mesmo que em envelope sem dolência.
terça-feira, setembro 28, 2004
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